Resumen

O movimento de reorientação curricular proposto pelo educador Paulo Freire e realizado na cidade de São Paulo, de 1989 a 1992, quando era secretário deeducação, foi uma experiência de gestão educacional que, ao desenvolver uma política pública de produção de documentos curriculares para as escolas primárias, reconheceram o lugar-chave do trabalho do professor na escola e colocaram-no no centro do processo de discussão, inaugurando uma dinâmica de diálogo e reflexão até então não vivida. Objetivo: refletir e discutir sobre qual tem sido o lugar destinado ao trabalho docente nas políticas curriculares, assim como seus efeitos sobre a profissão e a identidade docentes. Design: apresenta um recorte da pesquisa concluída, orientada metodologicamente: pela análise documental dos documentos elaborados pela gestão para conduzir a política curricular em tela; pelas entrevistas com diferentes atores responsáveis pela formulação das políticas e pela mediação com as escolas; e pela pesquisa bibliográfica. Ambiente e participantes: embora as entrevistas não constituam explicitamente o recorte que originou este texto, foram entrevistados alguns dos elaboradores da política curricular e também professores de matemática que atuavam em escolas públicas paulistanas à época. Coleta e análise de dados: os documentos analisados foram obtidos do Centro de Memória da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. A análise nos permitiu identificar um conjunto de documentos que conduziam a reorganização curricular. Identificamos, nos documentos, nas entrevistas e na pesquisa bibliográfica, como se deu a participação docente no processo de elaboração curricular. Resultados: o “não lugar” atribuído ao trabalho docente nas políticas curriculares prescritivas, como o BNCC, produz ativamente o trabalho docente como frágil, inconsistente, ineficaz e ineficaz, fragilizando-o e favorecendo a sua desprofissionalização. Esse enfraquecimento do trabalho docente, produzido ativamente, é utilizado, como em um ciclo, para justificar políticas curriculares mais centralizadas, mais prescritivas emais autoritárias. Conclusão: uma experiência democrática na política curricular pode reafirmar a autonomia, autoridade e alteridade dos professores. A política curricular de Freire, apesar de seus limites e entraves, apresentou-se capaz de promover e ampliar os espaços de sua participação e construção coletiva e autoral.